2.4.20

Saio com o mais novo para a alameda, onde ele pode chutar a bola à vontade e queimar tudo o que tem comido. Sento-me num banco, mas nem abro o livro que trouxe. Fico a ver o quanto cresceu o meu menino de cabelos de oiro velho e olhos de mar de inverno, como amadurecem em harmonia e proporção as partes do corpo que tinha arredondadas e fofas, a barriguita, as mãos, as bochechas, como se afila o pescoço e ganham precisão os movimentos. Como, enfim, cada vez menos procura nos meus olhos o consentimento e o incentivo. O que nele invejo – pode invejar-se um filho sem levar castigo? – é a robustez do humor. Nada, sequer o golpe profundo da morte, a consciência do mal ou a sombra dos desastres, fez estremecer a visão generosa que tem do mundo. Corre pela alameda de braços abertos, cabeça levantada e olhos fechados, confiando que a paisagem se faz e refaz a cada passo seu para que nenhum mal lhe aconteça, nenhuma pedra o rasteire, nenhum muro se interponha, nenhum abismo se abra.